15/10/13



Existe um muro ali na frente,
que transposto
mostra o outro lado,
o rosto não visto,
o colostro por engano bebido.

Muro que protege,
inibe, esconde o monturo,
o pulo herege;
muro que resguarda a desventura.

Existe um muro ali na frente
de súbito, per si, transparente.
A mente vem aos olhos,
vejo rosas e aromas:
arremesso-me.
Vejo dragões, serpentes aladas,
medusas, coisas escusas:
prosto-me vencido.

Acordado há pouco
vejo o muro,
tão visto e acostumado
faz sossegar-me.
Mas que sossego tolo,
se existe ali na frente um muro.


   Queiroz, Vladimir. Nuances. Salvador: Ed. Autor, 2012, p 59.
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