21/10/13



          " Todas são ridículas "

  Joaquina escrevia cartas de amor, quase todos os
dias, ao seu "adorado" António. Acabava com "tua para
sempre" na sua letra redonda e miúda. Dobrava
cuidadosamente a folha, de linhas azuladas e
introduzia-a no envelope, que tinha forro violeta.
Depois de escrito o endereço postal, metia a carta por
uns segundos no decote, como para lhe transmitir
algo da própria pele. Sandra recebeu um sms do Hugo.
Guardou nas mensagens recebidas para reler de novo.
Era do rapaz que tinha conhecido na véspera. Trazia
muitos sinais redondos a enviar sorrisos e muitas
abreviaturas de palavras, como por exemplo: Bjs.
tinha armazenado na pasta respectiva do pequeno
celular, várias mensagens daquelas, do Tiago, do
Rodrigo, do Diogo, do Afonso... Só ainda não tinham
descoberto a abreviatura da palavra "amor". Ignora-se
porque certas palavras resistem à queda das letras,
por muito tempo...


  Lourenço, Inês. Ephemeras. Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2012, p 27.
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