12/01/14

(Nota - este blogue, preferencialmente dedicado à literatura, tem também uma considerável lista de autores pertencentes Psicologia Social, Psicologia Clínica e Psicanálise. O psicólogo canadiano Robert Hare é hoje um dos principais especialistas em psicopatias e responsável pela elaboração da Psychopathy Checklist, instrumento universalmente aceite como escala para medir os graus de psicopatia. Segundo Hare, numa entrevista que concedeu, "cerca de um por cento da população mundial preencheria os critérios para o diagnóstico de psicopatia", ou seja, só nos EUA poderão existir cerca de três milhões de psicopatas. Nesta obra são clarificados todos os critérios, diversidade de tipos, bem como os comportamentos específicos do psicopata, é, aliás, interessante a página em que Hare nos diz que este tipo de personalidade pode ser encontrada nos mais diversos lugares: no duro e frio político, no ávido e insensível financeiro e até mesmo no ardiloso e cruel chefe de família. A obra aqui publicitada, apesar de fundamental, só pode ser encontrada na sua tradução para português variante do Brasil.)
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   Os psicopatas têm uma visão narcisista e exageradamente vaidosa de seu próprio valor e importância, um egocentrismo realmente espantoso, acreditam que têm direito a tudo e consideram-se o centro do universo, seres superiores que têm todo o direito de viver de acordo com suas próprias regras. "Não é que eu não cumpro as leis", disse um dos sujeitos da nossa pesquisa. "Eu sigo as minhas próprias leis. Nunca violo minhas próprias leis." Em seguida, descreveu essas regras nos seguintes termos: "escolhendo a número um".
(...) Os psicopatas com frequência se comportam como pessoas arrogantes e vaidosas, sem nenhuma vergonha - são seguros de si, de opinião firme, dominadores e convencidos. Adoram ter poder e controle sobre os demais e parecem incapazes de reconhecer que as outras pessoas têm opiniões próprias válidas. Parecem carismáticos ou "electrizantes" para alguns.
   Raramente os psicopatas ficam constrangidos com problemas jurídicos, financeiros ou pessoais. Em vez disso, consideram esses problemas como derrotas temporárias, resultado da má sorte, de amigos traidores ou de um sistema injusto e incompetente..
   Embora com frequência digam ter objetivos específicos, na verdade, os psicopatas demonstram pouca compreensão das qualificações necessárias - não fazem ideia do que precisam para alcançar objetivos e têm pouca ou nenhma chance de alcancá-los, dado seu histórico de desempenho e a oscilação de seu interesse na formação educacional.
(...) Os psicopatas mostram uma assombrosa falta de preocupação com os efeitos devastadores de suas ações sobre os outros. Com frequência, são completamente diretos sobre o assunto e declaram, com tranquilidade, que não sentem nenhuma culpa, não sentem remorsos pela dor e destruição que causaram e não veem motivo para se preocupar.
(...) A falta de remorso ou de culpa do psicopata está associada com uma incrível habilidade de racionalizar o próprio comportamento e de dar de ombros para a responsabilidade pessoal por ações que causam desgosto e desapontamento a familiares, amigos, colegas e as outras pessoas que seguem as regras sociais. Em geral, os psicopatas têm desculpas prontas para o seu comportamento e, às vezes, até negam completamente  que o fato tenha acontecido.(...) Perda de de memória, amnésia, blecautes, múltipla personalidade e insanidade temporária brotam constantemente em interrogatórios de psicopatas (...) Em uma distorção irônica, os psicopatas com frequência consideram que as vítimas são eles próprios.
 
 
  Hare, Robert D. . Sem Consciência, o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Porto Alegre: Artmed, 2013, pp 53 - 58.
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