31/03/08



         "  Poema  1  "


Nunca a terra assim se disse
na beleza calma das águas
no melopeia frágil dos seixos
raiados de azul e prata
e nos meus olhos que ulcerados
de aparente sem sentido
devagarinho pousam nas raízes
dos lírios adormecidos

Nem o fogo esta forma teve
de em brandura torturar
os socalcos desordenados das colinas
o despique incestuoso dos cheiros
da malva amarelecida da beladona
de mim à procura
no doloroso bordejar do bosque
em que me aparecia

Nunca a terra assim se disse
nesta sombra onde aos poucos
se perdia


Mateus, Victor Oliveira. Movimento de Ninguém. Lisboa: Minerva, 1999, p 13.



             " Poema  1 "


Sobre o dragoeiro, na sua ponta
mais extrema, ali deixei um gesto
esquecido, um farol compassivo,
uma réstia de tudo, depois,
depois sentei-me em frente,
na esperança que viesses
beber à armadilha.

Mateus, Victor Oliveira. Nas Águas a Luz Suspensa. Lisboa: Minerva, 1998, p 9.