" Poema 1 "
Nunca a terra assim se disse
na beleza calma das águas
no melopeia frágil dos seixos
raiados de azul e prata
e nos meus olhos que ulcerados
de aparente sem sentido
devagarinho pousam nas raízes
dos lírios adormecidos
Nem o fogo esta forma teve
de em brandura torturar
os socalcos desordenados das colinas
o despique incestuoso dos cheiros
da malva amarelecida da beladona
de mim à procura
no doloroso bordejar do bosque
em que me aparecia
Nunca a terra assim se disse
nesta sombra onde aos poucos
se perdia
Mateus, Victor Oliveira. Movimento de Ninguém. Lisboa: Minerva, 1999, p 13.