" À espera"
Coleciono perdidos. Tudo serve
aos meus achaques. O uniforme azul,
o beijo partido, a luxúria sem asas,
a menininha de tranças,
o amor/ suspiro na fonte, o punhal turco,
os pombos degolados no fundo do sono,
o tempo repartido em dois:
ontem, Chimène a caminho do pranto,
agora, os netos de Chimène,
a não apagada
pelo mata-borrão (havia lágrimas).
Tudo serve.
A esfinge na febre,
quero decifrá-la; tenho dois corações
num saco de plástico, à discrição do amor,
para o nosso próximo encontro.
Espero-vos, Senhora, de preto,
numa rua de Fez.
Guilhermino Cesar in "Sistema do Imperfeito & Outros Poemas", Editora Globo,
Porto Alegre, 1977, p 70.
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