29/08/08




Ainda existem as ruas onde por acaso
nos encontrámos? Tantos dias correram
num ano, viam-me em dias de mais desejo
apressar os passos, olhar o relógio, pôr
falhando os discos nas capas. Parecia
ter sido só uma despedida de um dia
para o outro, agora se escrevo é porque
és apenas uma imagem da memória, pouco
faltará para que guarde de ti um risco,
um embaraço. E sempre chegarei a tactear
o rosto, fingir que lembro pequenos sinais,
as poucas palavras necessárias para eu
aceitar, duas vezes o meu corpo esteve
com o teu, muitas mais sem saberes.
Na volta de uma esquina não reparo,
tropeço, encontro, o último sorriso
começa a nascer.


Helder Moura Pereira, In"De Novo as Sombras e as Calmas -
poesia 1976/1990", Contexto Editora, 1990, p 159.