16/01/09
"Auto da Horta Destruída"
Que triste, país, é a moral
da fábula campestre
que longos séculos nos deste
a ler - frautas e penhas,
arroios e fráguas, acaso
aproveitaste, pastor? Acaso,
velho, te acharás menino
a caminho da horta depois
de abertas as comportas?
Quem te virá demandar
cheiros pera a panela?
Ficas viúvo, país, até que falem
de novo os animais, o teu luto
dá pelo nome de turismo rural.
Fábulas contadas, sobra
a metade mais salgada
e pífia de Portugal:
a banhos vai, com espuma
e crescidas ondas pela cinta avança
mas perde o pé, e às arrecuas
se firma no cómico areal,
veleiro roto, crustáceo,
heróico baixio, obesa
prancha ocidental.
Rui Lage In "Corvo", Quasi Edições,
Vila Nova Famalicão, 2008, p 13.
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(Nota - Como vulgarmente sucede a foto não
foi tirada do livro, mas do Blogue "Textualino"
do escritor Carlos Vaz. Ela será imediatamente
retirada caso algum dos dois autores mo diga...)
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