03/01/09

"se o pulmão fora pétala e a rosa um campo minado
e a casa o coração da música serias tu o meu sul na volátil geografia do caminho certo. se nada
nos distraísse da miséria e das patas sobre o corpo e dos segredos irredutíveis numa página de
temperatura gelada serias o meu sentido único sobre as cinzas.

mas estamos aquém. como cidade sobre estacas ardidas. e deslizo-te.
como rio ao contrário. reacendo as artérias que te ascendem aos ombros. como matéria assisti-
da de símbolos vibráteis. serpentes e asas. peixes voadores no arvoredo dos teus lábios.
pequenos e dóceis os intervalos sucedem-se na tensa harmonia dos teus olhos de bambu.

lá fora o vento é montanha e águia. aqui sou uma prece. e prendo-te com ganchos de plátanos.
assim fora eu o pulmão da terra interior. da água mais pura que o esforço de mudar-te a foz.
é tão feroz a mão que nos escreve. o fundo.

PRESUNÇÃO DE LÁGRIMA LUMINOSA, IGNORO TODOS OS TEXTOS que não sejam de
prados movediços. pétala a pétala recupero a simetria do in.divino.
e
espero. o outro dia."

Isabel Mendes Ferreira

(Nota - agradeço à poeta Isabel Mendes Ferreira a autorização
que me deu para publicar este seu texto).
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