20/01/09


"Uma vítima da retórica"
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Tua ausência me enfeitiça e renasces
como uma fraude por repetidas noites.
Pressinto a espreita dos gemidos pegajosos:
teus lábios sempre no limite. Nada em mim
jamais esteve a salvo de tua voragem.
Quando me encontraste eu estava louco.
Recolhia pequenos pássaros congelados
e mascava seus vôos em rituais de pranto.
Tu me deste a efígie negra de teu ser,
como um último recurso e livre rota celeste
por entre deuses, desertos, misérias, nomes
Moí o vazio à procura de como empregá-la,
a imagem lutuosa de teu afastamento.
Percorri os círculos brancos da memória,
com suas bestas cochichando ardilezas,
até que não houvesse mais noites em mim
sem a tua nudez invisível: falso terror
com que me golpeias o vôo cristalizado
dentro dos pássaros que se foram comigo.
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Floriano Martins (Inédito).
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( Tradução para castelhano de Susana Giraudo:
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Tu ausencia me hechiza y renaces
como una fraude por repetidas noches.
Presiento el acecho de los gemidos pegajosos:
tus lábios siempre en el limite. Nada en mí
jamás estuvo a salvo de tu vorágine.
Cuando me encontraste yo estaba loco.
Recogía pequeños pájaros congelados
y mascaba sus vuelos en rituales de llanto.
Tú me diste la efígie negra de tu ser,
como un último recurso y libre ruta celeste
por entre dioses, desiertos, miserias, nombres.
Moli el vacío buscando cómo emplearla,
la imagem luctuosa de tu alejamiento.
Recorrí los círculos blancos de la memoria,
con sus bestias cuchicheando ardides,
hasta que no hubiesse para mí más noches
sin tu desnudez invisible: falso terror
con que me golpeas el vuelo cristalizado
dentro de los pájaros que se fueron conmigo.)
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Nota - o poeta e ensaísta brasileiro Floriano Martins é,
como muitos sabem, um dos responsáveis pela célebre
"Revista Agulha", agradecemos-lhe o envio de alguns dos
seus poemas (e respectivas fotos) para os podermos publicar
aqui. Bem-haja!
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