27/07/08

Poetas

"Carcavelos", foto de Gérard Castello Lopes (1956)

Vê amor, como o belo entra na nossa vida e parte
Vê como se circunda também ele de corpos belos
e também partem.

As coisas que nos causam pena serão ditas doutra forma, amor.
Não se tratará de nenhuma espécie de retrocesso do nosso
corpo na linguagem,
mas talvez a suprema adivinha do que será o nosso corpo
futuramente,
quando ele se encostar e se aquecer definitivamente na
linguagem.
Deliramos hoje nos nossos sonhos com as coisas que serão
futuramente perfeitas -
as partes de nós que arderão no fogo ancião de todos os dias,
para se tornarem,
pela luxúria e pelo descuido das cinzas,
brancas, absolutas, meu amor.


Eduarda Tavares, In "Sono Derramado", Ed. Caminho,
1992, p 19.