03/11/13
VII
Assim: namorar-te cheira a relva acabada de cortar
( dirias: "Foleiro. Vou ali atrás cortar os pulsos", e eu
saberia que essa possibilidade não é só pirotecnia).
Assim: ando, na carteira, com uma pequena
fotografia de uma mão e o advérbio de modo
intensamente, colagem por colar que recortaste de
um pacote de açúcar, entre desassossego e
entretém. Assim, também: quero-te tanto que te
quero como és, só tua, do mundo, comigo só nas
margens do papel, e isso parece-me tanto, tudo, um
milagre que tentarei merecer. Ainda: nunca te
magoar, não deixar que te magoem, tentar evitar
que te magoes. Tenho um metro e noventa, cento e
dez quilos, quase uma parede. Frágil (basta uma
pequena sonda para se perceber). Ainda assim,
parede. Se tiveres de investir contra o mundo, não
te contenhas - embate em mim. Marca-me. Como
me marcas de ternura.
Martins, Miguel. Cãibra. Amadora: Ediresistência Lda., 2012, p 17.
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