A tua visão podia ser também assim: pragmática. Ou, segundo dizias, realista e útil.
No entanto não conseguias ser de facto realista. O amor, enquanto durava, transformava tudo.
E nada tínhamos a ver com turistas. Éramos diferentes. Viajantes.
Os turistas vão à procura de lugares para fugirem de si próprios, da rotina, do stress, da infelicidade, do tédio, da velhice, da morte. Vêem os lugares onde chegam apenas de relance e não ficam a conhecer nenhum, porque logo os trocam por outros e fogem para mais longe. Os viajantes vão à procura de si, noutros lugares. Que ficam a conhecer profundamente porque nenhum esforço lhes parece demasiado e nenhum passo excessivo, tão grande é o desejo de se encontrarem.
As agências de viagens e os turistas só se interessam, obviamente, pelas cidades reais. Os viajantes preferem as cidades imaginadas. Com sorte, conseguem encontrá-las. Ao menos uma vez na vida.
Penso que uma vez na vida a sorte esteve do nosso lado e encontrámos a cidade que procurávamos. A Cidade de Ulisses.
Gersão, Teolinda. A Cidade de Ulisses. Porto: Sextante Editora, 2011, p 31.
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