28/06/08
"Os Gatos"
Estudiosos austeros ou libertinos ferverosos
Chegada a maturidade
Começam a gostar de gatos____
Os gatos a sério Verdadeiras preciosidades Meigos e poderosos
Amigos do saber e do prazer Os gatos
Procuram o sossego e a sombra estranha
Se fosse possível vergar-lhes o orgulho em servidão
Erebe tê-los-ia empregue como seus mensageiros fúnebres
Altivos por indiferença
Tomam as poses nobres
Das grandes esfinges
Que no fundo da sua solidão
Parecem dormitar sem fim nem despertar
Nos seus rins fecundos
Jazem mágicas setas de luz
Limalhas de ouro
Poalhas finas
Basta olhar suas pupilas místicas____
Estrela estrelas em dispersão
Maria Gabriela Llansol, tradução de "Les chats" de Baudelaire
"Les Chats"
Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
Charles Baudelaire, In "As Flores do Mal",
Relógio d'Água, 2003
Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
Charles Baudelaire, In "As Flores do Mal",
Relógio d'Água, 2003
25/06/08
Poetas
Nota- C.Ds. a não perder:
a) "Lorquiana", Ana Belén canta "canciones populares de
Federico Garcia Lorca, Dir. Chano Dominguez, Etiqueta BMG;
b) "Présence de Lorca" - Lorca dito por Germaine Montero,
Vinil de 1968 passado a C .D. pela "Harmonia Mundi";
c) "Canciones españolas antiguas", Federico Garcia Lorca,
Dir. Josep Pons, "cantaora" - Ginesa Ortega, Etiqueta
"Harmonia Mundi - France"
.
.
"La Cogida y la Muerte"
.
.
A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.
.
El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.
.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
Ay qué terribles cinco de la tarde!
Eran las cinco en todos los relojes!
Eran las cinco en sombra de la tarde!
.
.
Federico García Lorca, Antologia Poética,
Relógio d'Água, pp. 172-174.
24/06/08
"Livros Usados"
.
.
Tudo que se disse depois e
ainda se diz, pode estar num usado
exemplar de Crime e Castigo ou da Utopia.
Os livros usados - mesmo
que se chamem Utopia -
têm aquela terna docilidade
das páginas em que outras
mãos passaram, ao contrário
dos novos, que em rígidas e
intactas páginas são só apenas
papel impresso.
.
E para escassos amigos, quando
se fugiu duma livraria de
consumíveis tops,
talvez seja essa
a melhor oferta.
.
.
Inês Lourenço, In "a disfunção lírica"
21/06/08
Poetas
Olga Savary
"Coração Subterrâneo"
Tempo de terra e de água é este tempo
do corpo que no outro não procura espelho
mas conhecimento ávido, progressivo e lento,
pasto de magma alimentando o ventre.
Amando e se tornando amado, o corpo
do outro é de repente o nosso corpo
e dentro, coração subterrâneo,
no pequeno mato solta seus cavalos
cadenciadamente.
Como de bilha derrubada, a água fresca
e o mel-salsugem, em pulsações sedentas,
faz no tear interior do outro corpo
desenho de vida nos que estão morrendo.
O sortilégio de uma palavra
há que ser gritado como o desenfreio
dos cavalos e da bilha derramada.
Porém, calado, o tempo é dos amantes
e, deliquescidos, eles não dizem nada.
Olga Savary, In "Repertório Selvagem - Obra
Reunida", p. 188.
"Coração Subterrâneo"
Tempo de terra e de água é este tempo
do corpo que no outro não procura espelho
mas conhecimento ávido, progressivo e lento,
pasto de magma alimentando o ventre.
Amando e se tornando amado, o corpo
do outro é de repente o nosso corpo
e dentro, coração subterrâneo,
no pequeno mato solta seus cavalos
cadenciadamente.
Como de bilha derrubada, a água fresca
e o mel-salsugem, em pulsações sedentas,
faz no tear interior do outro corpo
desenho de vida nos que estão morrendo.
O sortilégio de uma palavra
há que ser gritado como o desenfreio
dos cavalos e da bilha derramada.
Porém, calado, o tempo é dos amantes
e, deliquescidos, eles não dizem nada.
Olga Savary, In "Repertório Selvagem - Obra
Reunida", p. 188.
20/06/08
Poetas
OLGA SAVARY (poeta, escritora, ensaísta, tradutora,
antologista e jornalista) caricaturada pelo artista plástico
Anderson Kocis).
"Guerra Santa"
Tenho um medo da fera que me pelo,
ao vê-la quase perco a fala
(embora seja a fera o que mais quero)
mas reagindo digo-lhe palavras doces
e palavras ásperas, torno
igual minha voz à voz dos bichos
para seduzi-la ou para intimidá-la,
para que pontiaguda me tome das entranhas
depois de dilacerar com as garras meu vestido.
Olga Savary, In "Repertório Selvagem -
obra reunida", Multi Mais editorial, p. 174.
(Nota - este poema integra-se no livro "Altaonda"
(1971-1977) incluido na antologia já referida.)
antologista e jornalista) caricaturada pelo artista plástico
Anderson Kocis).
"Guerra Santa"
Tenho um medo da fera que me pelo,
ao vê-la quase perco a fala
(embora seja a fera o que mais quero)
mas reagindo digo-lhe palavras doces
e palavras ásperas, torno
igual minha voz à voz dos bichos
para seduzi-la ou para intimidá-la,
para que pontiaguda me tome das entranhas
depois de dilacerar com as garras meu vestido.
Olga Savary, In "Repertório Selvagem -
obra reunida", Multi Mais editorial, p. 174.
(Nota - este poema integra-se no livro "Altaonda"
(1971-1977) incluido na antologia já referida.)
17/06/08
Poetas
Vai chegar a manhã.
A luz treme nos arbustos.
Algas, seixos, limos
guiam pelas fragas
a água sem fundura,
o ardor levantino do anil.
Ouves correr poalhas de bruma?
Silêncios do vento que renasce?
Seguro na mão que não seguras
uma lâmina de fogo, um erro
de árvores, e olhas-me.
Pouso os lábios no teu pulso
para te sentir o coração.
É tão perigoso ser feliz.
Joaquim Manuel Magalhães, In "uma luz com um toldo vermelho"
16/06/08
Poetas
(Nota - hoje lembrei-me de juntar "três grandes": uma foto
de CHARLES CHAPLIN, datada de 13/9/1952, tirada em
Nova Iorque por RICHARD AVEDON, quando Chaplin se via
forçado a abandonar os E.U.A., para ilustrar JUARROZ...)
Cada poema faz esquecer o anterior,
apaga a história de todos os poemas,
apaga a sua própria história
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz esquecer a anterior,
desfilia-se por um momento
do tronco muitiforme da linguagem
e reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz esquecer o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protectora
que o preserva dos outros dizeres.
Nada disto é raro.
No fundo,
também cada homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
Roberto Juarroz, In Poesia Vertical
(trad. Arnaldo Saraiva)
de CHARLES CHAPLIN, datada de 13/9/1952, tirada em
Nova Iorque por RICHARD AVEDON, quando Chaplin se via
forçado a abandonar os E.U.A., para ilustrar JUARROZ...)
Cada poema faz esquecer o anterior,
apaga a história de todos os poemas,
apaga a sua própria história
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz esquecer a anterior,
desfilia-se por um momento
do tronco muitiforme da linguagem
e reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz esquecer o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protectora
que o preserva dos outros dizeres.
Nada disto é raro.
No fundo,
também cada homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
Roberto Juarroz, In Poesia Vertical
(trad. Arnaldo Saraiva)
14/06/08
Poetas
Foto (sem título) de Liliroze
"Debaixo dos Pés se Levantarão"
Virás, seguindo o meu rasto,
sob o impulso de um desejo antigo,
para que de novo as camas se desfaçam
e a tenaz das pernas aprisione
a própria sombra sobre o cenário azul
de uma tela distante do olhar.
Depois chegarão os parentes, alguns amigos,
e debaixo dos pés se levantarão
as lebres da intriga que envenena.
Quererão saber quem és,
de que história saíste,
que mãos te moldaram,
que boca te deu nome e rumo.
Partirão feridos pela dúvida.
Só existes no fogo do que digo,
nas páginas do que desvendo,
na euforia negra do que oculto.
Em mais nada. Ofereces-me
os cadernos em que te escrevo
em que te descrevo
com o pormenor balbuciante e febril
de quem retrata a dor que o fere,
de quem nomeia a dor que o mata.
José Jorge Letria, In "Manuscritos do Mar Vivo"
"Debaixo dos Pés se Levantarão"
Virás, seguindo o meu rasto,
sob o impulso de um desejo antigo,
para que de novo as camas se desfaçam
e a tenaz das pernas aprisione
a própria sombra sobre o cenário azul
de uma tela distante do olhar.
Depois chegarão os parentes, alguns amigos,
e debaixo dos pés se levantarão
as lebres da intriga que envenena.
Quererão saber quem és,
de que história saíste,
que mãos te moldaram,
que boca te deu nome e rumo.
Partirão feridos pela dúvida.
Só existes no fogo do que digo,
nas páginas do que desvendo,
na euforia negra do que oculto.
Em mais nada. Ofereces-me
os cadernos em que te escrevo
em que te descrevo
com o pormenor balbuciante e febril
de quem retrata a dor que o fere,
de quem nomeia a dor que o mata.
José Jorge Letria, In "Manuscritos do Mar Vivo"
" IN MEMORIAM"
Cheguei a pensar que, com o tempo, vos haveria de esquecer;
que uma qualquer nuvem sulfurosa, aos poucos, acabaria por
corroer todas as vossas imagens, como se corroem hoje os
sentimentos mais belos: agora descartáveis, biodegradáveis,
pronto-a-usar do sentir no turbilhão de tudo
Cheguei a pensar que vos haveria de esquecer. Mas não!
Não, porque lembrar é o preço que pagam os que ficam.
Lembrar... Lembrar os vossos corpos cada vez mais mirrados,
os vossos corpos frágeis de frágeis bonecos de porcelana,
os vossos rostos apenas malares e olhos - olhos terminais de
despedida. Lembrar a minha revolta: "quantos mortos destes
são precisos, para fazer um rico dos outros?" Lembrar um
sonho antigo com a figura imponente de minha avó: sentada
na soleira da porta, rosto carregado, olhar de sibila sobre o
Infinito, calada, sempre calada, tão calada que nesse dia
resolveu gritar: "há demasiado sofrimento na Terra!
Digam-me, a quem aproveita ele?"
Cheguei a pensar que, com o tempo, vos haveria de esquecer,
mas isso foi antes: antes da saudade, antes desta terrível
sensação de perda, desta amputação perversamente
deliberada. Antes do grito lúcido de minha avó.
Victor Oliveira Mateus, In "Mealibra, Revista de Cultura"
Nº9, Série 3, Dezembro 2001.
+
11/06/08
" Texto 17 "
A vida. A vida é muito útil: serve para fingir que sabemos
muita coisa, para fingir que gostamos dos outros, para fingir
que somos alguém não o sendo e para querer ter muito
poder. Eu, umas vezes, ponho a vida a tiracolo, para que as
suas franjas arrojem o chão; outras, coloco-a à cabeça, e logo
ela parece querer voar alçando-se ao céu. Certo dia pus a
vida numa capoeira que tenho lá no quintal, mas ela, assim
que se viu presa, começou a uivar no seu poleiro pedindo-me
para que a libertasse, e eu libertei-a mesmo... só que ela,
desorientada, ao atravessar uma rua, foi logo atropelada.
Ainda pensei arranjar outra vida, mas depois vi que não
valia a pena...
Mateus, Victor Oliveira. Movimento de Ninguém. Lisboa: Minerva, 1999, p 29.
.
09/06/08
Poetas
"Dammartin-en-Goele", foto de Gil Cipière
Amei o Amor, ansiei o Amor, sonhei-o
uma vez, outra vez (sonhos insanos!)...
e desespero haja maior não creio
que o da esperança dos primeiros anos.
Guardo nas mãos, nos lábios, guardo em meio
do meu silêncio, aquem de olhos profanos,
carícias virgens, para quem não veio
e não virá saber dos meus arcanos.
Desilusão tristíssima, de cada
momento, infausta e imerecida sorte
de ansiar o Amor e nunca ser amada!
Meu beijo intenso e meu abraço forte,
com que pezar penetrareis o Nada,
levando tanta vida para a Morte!...
Gilka Machado, Livª Cátedra, pp.153/4
Amei o Amor, ansiei o Amor, sonhei-o
uma vez, outra vez (sonhos insanos!)...
e desespero haja maior não creio
que o da esperança dos primeiros anos.
Guardo nas mãos, nos lábios, guardo em meio
do meu silêncio, aquem de olhos profanos,
carícias virgens, para quem não veio
e não virá saber dos meus arcanos.
Desilusão tristíssima, de cada
momento, infausta e imerecida sorte
de ansiar o Amor e nunca ser amada!
Meu beijo intenso e meu abraço forte,
com que pezar penetrareis o Nada,
levando tanta vida para a Morte!...
Gilka Machado, Livª Cátedra, pp.153/4
08/06/08
Poetas
"Le lac de Nino: les pelouses andines", foto de Fabrice Milochau
"Violences"
La lanterne s'allumait. Aussitôt une cour de
prison l'étreignait. Des pêcheurs d'anguilles
venaient là fouiller de leur fer les rares herbes
dans l'espoir d'extraire de quoi amorcer leurs
lignes. Toute la pègre des écumes se mettait
à l'abri du besoin dans ce lieu. Et chaque nuit
le même manège se répétait dont j'étais le
témoin sans nom et la victime. J'optai pour
l'obscurité et la réclusion.
Étoile du destiné. J'entr'ouvre la porte du
jardin des morts. Des fleurs serviles se recueillent.
Compagnes de l'homme. Oreilles du Créateur.
René Char de "Seuls demeurent" (1938-1944),
In "Fureur et Mystère", Poésie/Gallimard, Paris, 1967
"Violences"
La lanterne s'allumait. Aussitôt une cour de
prison l'étreignait. Des pêcheurs d'anguilles
venaient là fouiller de leur fer les rares herbes
dans l'espoir d'extraire de quoi amorcer leurs
lignes. Toute la pègre des écumes se mettait
à l'abri du besoin dans ce lieu. Et chaque nuit
le même manège se répétait dont j'étais le
témoin sans nom et la victime. J'optai pour
l'obscurité et la réclusion.
Étoile du destiné. J'entr'ouvre la porte du
jardin des morts. Des fleurs serviles se recueillent.
Compagnes de l'homme. Oreilles du Créateur.
René Char de "Seuls demeurent" (1938-1944),
In "Fureur et Mystère", Poésie/Gallimard, Paris, 1967
06/06/08
Poetas
"Cantiga de Amiga"
Nesta tarde de junho
quase julho
feita de bruma
só levanto
se ela chamar por mim,
voz rouca
seios de marfim.
Amados, amigos,
esqueçam a poeta
e seus dizeres
só levanto
se ela chamar por mim,
dedos róseos
lábios de cetim.
Os filmes são improváveis
os encontros adiáveis
hoje não saio daqui
só levanto
se ela,
olhos de alecrim
chamar por mim.
A casa descansa
porque é sábado,
a cidade descansa
porque é sábado.
Quem me faria levantar,
senão ela
aldrava de mim?
Em seu ventre
adormeço,
colho amoras
qual Salomão em seu jardim
e só me levanto
se ela e seus ais
chamarem por mim.
Neide Archanjo, In "Epifanias"
04/06/08
As mesmas letras, outras visões...
As mesmas letras, outras visões...
Acabou de sair o Número 26 (Ano 14/2007) da Revista
"Poesia Sempre", patrocinada pela Fundação da Biblioteca
Nacional (Rio de Janeiro) e pelo Ministério da Cultura do Brasil.
Este número da revista, com 240 páginas, é dedicado a Portugal.
Passamos à indicação do seu Sumário":
Palavras Iniciais, por Marco Lucchesi - p.7
Manoel de Oliveira: diário de uma amizade,
por Aniello Angelo Avella - p.9
António Ramos Rosa: um construtor que ama a clara
simetria dos terraços, por Victor Oliveira Mateus - p.15
Poesia portuguesa das últimas décadas (antologia
organizada por Arnaldo Saraiva) - p. 37
Crónica de vislumbres - António Bandeira: uma
árvore verde para o novo homem, por Floriano Martins
e Jacob Klintowitz - p. 125
Poesia Inédita (do Brasil) - p. 137
Ensaios - p .201
O Mito Drummond, por Letícia Malard - p.203
Cinema de poesia, por Constança Hertz - p.213
Absortos na vida, por Per Johns - p.223
"Poesia Sempre", patrocinada pela Fundação da Biblioteca
Nacional (Rio de Janeiro) e pelo Ministério da Cultura do Brasil.
Este número da revista, com 240 páginas, é dedicado a Portugal.
Passamos à indicação do seu Sumário":
Palavras Iniciais, por Marco Lucchesi - p.7
Manoel de Oliveira: diário de uma amizade,
por Aniello Angelo Avella - p.9
António Ramos Rosa: um construtor que ama a clara
simetria dos terraços, por Victor Oliveira Mateus - p.15
Poesia portuguesa das últimas décadas (antologia
organizada por Arnaldo Saraiva) - p. 37
Crónica de vislumbres - António Bandeira: uma
árvore verde para o novo homem, por Floriano Martins
e Jacob Klintowitz - p. 125
Poesia Inédita (do Brasil) - p. 137
Ensaios - p .201
O Mito Drummond, por Letícia Malard - p.203
Cinema de poesia, por Constança Hertz - p.213
Absortos na vida, por Per Johns - p.223
03/06/08
Poetas
"Bruno" (1984), foto de Dino Pedriali
(Nota - Dino Pedriali é um dos grandes senhores da
História da Fotografia, só por isso o incluo aqui, pois
não sou, de modo algum, admirador da sua obra.
"Bruno" é um dos seus trabalhos mais conhecidos,
por isso o escolhi para ilustrar um poema de uma
grande poeta e amiga...)
"Pousada"
Pousa teus sonhos
Nos meus ombros.
O mormaço escorre
No suor de teu cansaço.
Estamos exaustos:
Eu por te esperar,
Tu por não chegares.
Vem.
Espero teu abraço.
Quero-o ardente,
Possuidor.
Frouxos estão
Meus lamentos.
Tardas.
Não queres voltar?
Estás farto de amor,
Ou tens pouco para dar?
Vem.
Preciso de teus beijos
Longos, gananciosos.
Quero sorver vida
Através de tua boca.
Chama-me louca,
Aventureira,
Presa fácil...
Estás indeciso?
Queres uma pousada segura,
Ou não crês nas minhas oferendas?
Vem.
Encontrarás o que procuras:
Casa, conforto, roupa macia,
Comida farta, carinho
E uma cama ardente.
Vem.
Pousa tua teimosia
Na minha solidão.
Vem.
Há sempre uma vaga
Na minha pousada.
Vem.
Espero tua chegada...
Cleri Aparecida Biotto Bucioli, In
"Sedas Rasgadas", Taba Cultural,
Rio de Janeiro, 2000.
(Nota - Dino Pedriali é um dos grandes senhores da
História da Fotografia, só por isso o incluo aqui, pois
não sou, de modo algum, admirador da sua obra.
"Bruno" é um dos seus trabalhos mais conhecidos,
por isso o escolhi para ilustrar um poema de uma
grande poeta e amiga...)
"Pousada"
Pousa teus sonhos
Nos meus ombros.
O mormaço escorre
No suor de teu cansaço.
Estamos exaustos:
Eu por te esperar,
Tu por não chegares.
Vem.
Espero teu abraço.
Quero-o ardente,
Possuidor.
Frouxos estão
Meus lamentos.
Tardas.
Não queres voltar?
Estás farto de amor,
Ou tens pouco para dar?
Vem.
Preciso de teus beijos
Longos, gananciosos.
Quero sorver vida
Através de tua boca.
Chama-me louca,
Aventureira,
Presa fácil...
Estás indeciso?
Queres uma pousada segura,
Ou não crês nas minhas oferendas?
Vem.
Encontrarás o que procuras:
Casa, conforto, roupa macia,
Comida farta, carinho
E uma cama ardente.
Vem.
Pousa tua teimosia
Na minha solidão.
Vem.
Há sempre uma vaga
Na minha pousada.
Vem.
Espero tua chegada...
Cleri Aparecida Biotto Bucioli, In
"Sedas Rasgadas", Taba Cultural,
Rio de Janeiro, 2000.
02/06/08
"ilusão"
a flor desata o nó em direcção a uma lâmpada
é livre na sua luz e na sua escolha
enquanto procura o conforto no espaço
entra pela janela uma leve claridade (do sol)
tocando o corpo vegetal que indiferente
procura um lugar na terra herdada
no fim, grita com todas as cores
pela luz falsa que a entretém
numa espécie de ilusão enigmática de liberdade
Carlos Vaz, In "Liberdade - col. afectos Nº 3"
Ed. Labirinto, 2007.
01/06/08
Em tua forma mais pura
pelo silêncio me acenas; espraias-te na sombria distracção
da terra. Como corola fendida te abres em lampejos de tantas
cores. Imagem da primeira fala. Espelho nimbado de ouro
que, em jogos de fingimento, o essencial revelas
Nunca te procurei. Não te procuro, tão indolente que sou.
E, no entanto, acabas sempre por vir: de mansinho,
insidiosa... Ó terrível desventura que salva! Em mim te
aconchegas com teu tropel de vozes: lúcida desrazão que
acalma, êxtase do que pressinto. E vens, misto de assombro
e agonia, estranho dizer, talvez poesia
Victor Oliveira Mateus, Poema 27 In "Pelo Deserto
as minhas mãos"
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