(Nota - hoje lembrei-me de juntar "três grandes": uma foto
de CHARLES CHAPLIN, datada de 13/9/1952, tirada em
Nova Iorque por RICHARD AVEDON, quando Chaplin se via
forçado a abandonar os E.U.A., para ilustrar JUARROZ...)
Cada poema faz esquecer o anterior,
apaga a história de todos os poemas,
apaga a sua própria história
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz esquecer a anterior,
desfilia-se por um momento
do tronco muitiforme da linguagem
e reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz esquecer o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protectora
que o preserva dos outros dizeres.
Nada disto é raro.
No fundo,
também cada homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
Roberto Juarroz, In Poesia Vertical
(trad. Arnaldo Saraiva)