01/06/08
Em tua forma mais pura
pelo silêncio me acenas; espraias-te na sombria distracção
da terra. Como corola fendida te abres em lampejos de tantas
cores. Imagem da primeira fala. Espelho nimbado de ouro
que, em jogos de fingimento, o essencial revelas
Nunca te procurei. Não te procuro, tão indolente que sou.
E, no entanto, acabas sempre por vir: de mansinho,
insidiosa... Ó terrível desventura que salva! Em mim te
aconchegas com teu tropel de vozes: lúcida desrazão que
acalma, êxtase do que pressinto. E vens, misto de assombro
e agonia, estranho dizer, talvez poesia
Victor Oliveira Mateus, Poema 27 In "Pelo Deserto
as minhas mãos"