31/05/08
Não temas
deixa meus gestos
descerem-te trago a trago
Deixa minha boca
à deriva
para a macieza transparente
do que julgas não querer
Não digas nada
Confia
A precisão te levará
às paragens longínquas
onde o cheiro do feno
e a saliva insubmissa
se misturam
Nada te fará perigar
nem a frieza do ocaso
nem as farpas aceredas
no vórtice da traição
Não mudes estes caminhos
espécie de jóias
ou lâmpadas salpicando
meu feroz desejo de ti
Não temas
Fecha os olhos
Concede a fúria louca
das nascentes
que num sussurro
atiro com ternura
à tua mudez assustada
Victor Oliveira Mateus, Poema 3
In "Movimento de Ninguém", Lisboa, 1999.