29/05/08
Áspera e vulgar era a manhã
quando de novo à minha mesa te sentaste:
falaste-me do mar, do teu equilíbrio na crista
das ondas e de um país ao sul, onde em júbilo
incontrolado, novas praias te esperavam
E nessa manhã tão simples, não te falei eu
do que sempre te vou roubando: a brancura
da pele, o ruivo do cabelo, o impetuoso fulgor
de um admirável corpo solar
- vertente do meu fascínio, com inúmeras
flores de cerejeira soberbamente enriquecida;
minha aprazível e quase obscena fonte, onde
sempre me procuro e sempre me acabo por
perder
Afinal foi numa vulgar manhã, que uma vez
mais, com astúcia, te armadilhei: escondidos
foram, num dos teus bolsos, pedaços do meu
destino; réstia de um pretexto que a tua vinda
me desenha
Victor Oliveira Mateus, In "Cerejas - poemas de
amor de autores portugueses contemporâneos",
Editorial Tágide, 2004, pg 65.