Retrato de Mme Judith Teixeira, In "Ilustração
Portuguesa", nº 886, de 10/2/1923.
"A Minha Amante"
Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!...
Eles sabem lá o que há de sublime,
nos meus sonhos de prazer...
De madrugada, logo ao despertar,
há quem me tenha ouvido gritar
pelo teu nome...
Dizem - e eu não protesto -
que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
para te esquecer...
E que de noite pelos corredores
quando vou passando para te ir buscar,
levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo -
não entendem deste luar de beijos...
- Há quem lhe chame tara perversa,
dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
o meu castigo...
E eu em sombras alheio-me dispersa...
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo...
Que és tu que doiras ainda,
o meu castelo em ruína...
Que fazes da hora má, a hora linda
dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos...
- Adormenta esta dor que me domina!
Judith Teixeira, In "Decadência"