Jacopo Tintoretto, Autorretrato, ca. 1547-1548
"Difícil Amor"
Acordas líquido no teu sangue sobre meu sangue
de asas paradas
Acordas distante e próximo e cantas-me o cântico sem fundo
Cantar amigo inimigo cantar dobrado que desde a infância
escutei
E amo-te amo-te sem saber o objecto amado
Sem esquecer todo o óleo derramado em tuas mãos pesadas
De bens que não são os meus
E contudo tudo é amor incoerente e real e que se reconhece
Sem coragem de romper os linhos do amanhã
E não te amo não não se ama esta ferida de mistério
que se sente em já saudade de barro húmido
lavrando no beijo a secura da humilde pele
E eu sei o que é amar e ser amada meus olhos limpos
não dizem adeus.
E os deuses não esperam
Matilde Rosa Araújo, In "Voz Nua"