29/05/08



Por todo o lado me cercas
Com teus ramos de límpida filigrana o dia inundas,
os bosques, as colinas persistentes onde o destino
é uma luz difusa, como árvore dilacerada de cores,
no rumor inconsolado da terra

Por todo o lado te anuncias
Com teus oblíquos desígnios verdes em precisão
desvelas a nitidez vaga do horizonte, onde os
símbolos se misturam, na vastidão impenetrável
do silêncio:
a mesa das oferendas para o Alto inclinada
a taça repleta de cerejas
uma mão inerte junto ao umbral
Por todo o lado me cercas, ó fabulosa imagem
e em teu fervor de natureza morta
ao meu corpo prometes vida

Victor Oliveira Mateus, In " Cerejas - poemas
de amor de autores portugueses contemporâneos",
Editorial Tágide, 2004, pág. 64