26/05/08

Poetas

"Maturação"

era uma vez uma senhora que podia viver sozinha.
que podia em silêncio, ver crescer os frutos de cada
laranjeira. e as árvores nasciam fora e dentro de sua
casa. barravam, por vezes, o caminho, e tomavam
formas e perfumes diferentes para cada noite.
rutilando envoltas numa prosa que as colocava
sobre pedestais. assim, perigosas. assim, irónicas.
assim, susceptíveis de estrangular o medo.

uma senhora triste ao longo das raízes do seu sonho.
quando lhe perguntaram se acreditava em deus
apenas murmurou sim, ando porém a ver se acredito
nos meus sentidos. e alisou a prega do incêndio que
lhe subia às mãos.

Olga Gonçalves, In "caixa inglesa"