Um ceu dormente
morre nas curvas baças do Horizonte...
E Ceus e Longes, Horizontes e Ceus,
abraçam-se, confumdem-se irmãmente.
Abraçam-se, confundem-se irmãmente,
- e nem eu sei, ó Horizontes rasos,
atrás de que alto enlevo é que abalais,
sempre com ar ausente,
suspensos, misteriosos, sempre iguais!
Ruim quebranto
que de indiziveis coisas nos alaga,
por todo êste concavo em que habito
vai uma ânsia indefinida, vaga.
Não sabe a gente,
na indecisão em que ela ondeia e erra,
onde termina a Terra e se entra no Infinito,
onde o Infinito acabe e seja a Terra!
A estrofe embaladora da Distancia,
num marulhar de encanto, em nossas veias
dilui-se em opio, em opio se desfaz.
Atrás da fluida estancia,
abalam sem partir os Horizontes,
que essa cantiga, irmã da das sereias
arrastadoramente as leva atrás!
... ... ...
Ó circulo da Vida! Ó mito da Serpente!
Só é feliz quem a lição te aprova!
Meu coração, descansa, não te agites,
- não sejas tu também a Estrada-Nova!
A posse da Existência está somente
na aceitação gostosa dos Limites!
Exalta-te, mas fica! Não te sumas,
meu coração, na febre de abalar!
Desejos sem raiz são cinza, espuma,
- desfazem-se o ar!
Olha, menino e moço. os Horizontes
querem partir, mas deixam-se ficar!
Antonio Sardinha, In "A Epopeia da Planicie"
Coimbra, França Amado Editor, 1940,
Nota 1- conservo sempre a grafia das edições.
Nota 2- as rubricas: "Poetas", "Poemas" e "Inabalável
memória" são só para poemas, mesmo que os autores
sejam conroversos, mas nos comentários poderá ser
escrito o que entenderem sobre o tema. Outras
rubricas existem com outro tipo de preocupações
como, por exemplo, a "Notas soltas"...