26/09/08
Quando foi o tempo certo que o não vi?
E se o não vi, como poderia ter sido certo;
concordância de sinais nos ondulantes
trilhos que somos? Ou até mesmo tempo?
Como poderia ter sido tempo, essa Duração
do Todo nos fugazes acenos com que nos
vestimos e nas noites de mar revolto -
julgando ser o que não somos - dançamos,
esquecemos, rimos? Quando foi o tempo
certo? Esse inapagável tempo que, apenas
imaginado, te sai da boca em gritos,
em arrastar de cadeiras, em violência
de porta cerrada ante mim aturdido,
sem gota de pensamento nem palavra
que me console? Mas quando foi?
Quando foi esse desacerto certo no
cerco que disseste ter havido? Essa
funesta e fulminante funda sobre mim
atirando, pedra atrás de pedra, palavra
atrás de palavra, em sórdida acusação.
Mas através da janela nem uma aragem
vejo. Apenas o sufoco. Uma asfixia
rude e fera. Pego numa taça de fresco
branco e deixo-a no degrau à tua espera.
Victor Oliveira Mateus In "A Irresistível Voz de Ionatos", Editora Labirinto,
Fafe, 2009, p 29 (Posfácio de Cláudio Neves e texto da contracapa de Olga Savary).