27/12/11

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Hitler pode ter respeitado profundamente as capacidades de organização de Rohm, mas desconfiava dos seus motivos. Agora, diziam a Hitler que as SA estavam não apenas a fomentar uma "segunda revolução", mas também a conspirar ativamente com potências estrangeiras (nomeadamente a França) para o derrubar. No final da primavera de 1934, a sua paranoia estava a transformar-se em verdadeiro pânico. Nem sequer Bruno, que estava tão bem relacionado como qualquer apparatchik do partido, fazia ideia das forças que estavam a ser alinhadas contra Rohm e a liderança das SA. A verdade é que todas as SA foram apanhadas desprevenidas, o preço a pagar por não terem um sistema de informações eficaz e por se deixarem vencer em estratégia de uma forma tão inequívoca pelos seus muitos rivais.
Ignorando o problema em que estava metido, Rohm ordenou despreocupadamente que todas as SA tivessem uma licença alargada no verão, que teria início no dia 1 de julho. Himmler, Goring e os outros que conspiravam ativamente para a queda de Rohm tinham agora um calendário urgente para agir. (...) Provas forjadas de "listas de morte" das SA foram apresentadas a Hitler. Com apenas um ou dois dias antes de as SA iniciarem as férias de verão, Hitler atacou subitamente.
Rohm tinha iniciado as suas férias na cidade termal de Bad Wiesse, na Bavária, para tratar de uma série de achaques. Tinha um problema cardíaco e sofria os efeitos nefastos de ferimentos do tempo da Primeira Guerra Mundial. Ele e o seu séquito (incluindo o seu harém de consortes do sexo masculino) estavam agora hospedados num hotel, completamente alheios à armadilha que estava prestes a apanhá-los. Hitler e um pequeno grupo de oficiais superiores das SS chegaram de carro ao incício da manhã de domingo, 30 de junho. Arrombaram as portas do quarto e prenderam um grupo espantado e embasbacado de homens das SA, entre os quais Rohm. Repreendidos, empurrados e vigorasamente acusados de traição, foram levados para a Prisão de Stadelheim, em Munique. (...) Detenções semelhantes foram efectuadas em Berlim e Breslau.
O fim foi rápido e implacável. Cerca de 85 pessoas foram mortas durante a chamada Noite das Facas Longas, quer onde se encontravam quando foram detidas - em suas casas, sentadas às secretárias - quer diante de pelotões de fuzilamento organizados em Munique, Berlim, Breslau e Dachau. As SS usaram o caos para marcar pontos com os importantes críticos do movimento, incluindo o homem que tinha escrito recentemente um discurso hostil proferido pelo vice-chanceler Von Papen.
Por fim, chegou a vez de Rohm. O homem que tinha sido o mentor de Hitler e o seu aliado mais próximo recebeu um revólver carregado com o qual poderia suicidar-se, mas recusou-se a ser conivente com a charada da sua culpa, preferindo desnudar o peito e olhar para os dois oficiais das SS, que entraram prontamente na sua cela e o alvejaram à queima-roupa. "Todas as revoluções comem os seus próprios filhos", terá dito. Foi ordenado que a matança terminaria antes de 2 de julho e as certidões de óbito de todos os que caíram depois dessa data foram devidamente alteradas.
As SA estavam acabadas enquanto força por direito próprio, e durante o resto da sua história nunca escaparam à trela do partido. Continuaram a existir, mas de uma forma extremamente reduzida. A maioria das suas armas foi confiscada e entregue ao exército.(...) Depois da guerra, esta perda de poder de decisão salvou-a de ser declarada uma organização criminosa pelas autoridades aliadas. Bruno não foi o único soldado de assalto que teve de aceitar o facto de a liderança das SA ter apostado mal e perdido.
(...) No dia 2 de Agosto, o idoso presidente Hindenburg faleceu finalmente. Hitler apropriou-se sem demora do cargo dele, que por fim lhe conferiu poder em todo o país, não apenas no Reichstag. Duas semanas mais tarde, obteve uma ratificação retrospetiva para o seu passo num plebiscito que decorreu no dia 19 de agosto. Oitenta e nove por cento das pessoas que puderam votar apoiaram a medida; quatro milhões e meio de alemães, mesmo nesta fase tardia, tiveram a coragem de dizer que não, mas não adiantou nada. Foi uma vitória esmagadora.

  Martin Davidon in " O Perfeito Nazi ", Texto Editores, Alfragide, 2011, pp 168 - 170.
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