Uma das coisas em que reparei durante aquelas semanas na UCLA foi que muita gente conhecida, quer de Nova Iorque, quer da Califórnia e de outros sítios, partilhava de um hábito mental geralmente atribuído aos que se deram muito bem na vida. Acreditavam piamente na sua própria capacidade de resolução de problemas. Acreditavam piamente no poder dos números de telefone que sabiam na ponta da língua, o médico certo, o principal doador, a pessoa que podia facilitar um favor junto do Estado ou da Justiça. A capacidade de resolução dos problemas daquela gente era de facto prodigiosa. O poder dos seus números de telefone era de facto ímpar. Eu própria, durante a maior parte da minha vida, partilhava da mesma fé enraizada na minha capacidade de controlar os acontecimentos. Se a minha mãe fosse hospitalizada inesperadamente em Tunes, eu conseguiria que o cônsul americano lhe levasse jornais em língua inglesa e a metesse num voo da Air France para ela se encontrar com o meu irmão, que estava em Paris. Se Quintana ficasse subitamente apeada no aeroporto de Nice, eu conseguiria arranjar alguém da British Airways para a meter num voo da BA para ela ir ter com o primo a Londres. No entanto, a um determinado nível, porque sou medrosa de nascença, tivera sempre a percepção de que certos acontecimentos da vida estão para além da minha capacidade de os controlar ou resolver. Certos acontecimentos limitam-se a suceder. Este era um desses acontecimentos. Sentamo-nos para jantar e a vida, tal como a conhecemos, acaba.
Joan Didion in " O Ano do Pensamento Mágico ", Gótica, Lisboa, 2006, pp 104 - 105.
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