29/06/10

" Como a onda na crista d'um rochedo. "

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"Estatua"

Cancei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem côr, - frio escalpello, -
O meu olhar quebrei, a debatel-o,
Como a onda na crista d'um rochedo.

Segredo d'essa alma, e meu degredo
E minha obcessão! Para bebel-o,
Fui teu labio oscular, n'um pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu osculo ardente, hallucinado,
Esfriou sobre o marmore correcto
D'esse entreaberto labio gelado...

D'esse labio de marmore, discreto,
Severo como um tumulo fechado,
Sereno como um pelago quieto.

Camilo Pessanha in "Clepsydra", Relógio D'Água Editores, Lisboa,
1995, p 85 ( Estabelecimento de texto, introdução crítica, notas e
comentários por Paulo Franchetti).
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