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"Tempo desdobrado"
Há um respirar alheio ao tempo.
Na geometria dos triângulos,
tudo se abre, nada se fecha.
O contrário não exclui o seu contrário,
e por isso quem respira alheio ao tempo
não deixa de estar no tempo desdobrado.
As tílias espalham em redor o seu perfume
de consonâncias perfeitas,
como no Lindenbaum de Schubert.
Cheira a Verão na Avenida Central
e debaixo das tílias falamos
sobre o curso das estrelas,
cuja história é também a nossa,
desdobrada no tempo
no desdobramento do nosso tempo.
Frederico Lourenço in "Santo Asinha e outros poemas", Editorial Caminho,
Alfragide, 2010, pp 38 - 39.
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