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"A fonte "
(sobre "O Balanço", de Fragonard )
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Mera e moral, a um canto da tela,
a fonte em que o Amor ou outro deus,
em gesto, se de cúmplice censura,
nada acrescenta à cena ou tira dela.
Em nada existe, em nada além de idéia
tão decadente de que o olho espera
um recesso de água e de penumbra
se, quando nume, um corpo de mulher flutua;
se o desejo (ou o clichê dele) nos inunda
à visão de um balanço e uma mulher
cujo vestido voa, e o gesto pondera;
se uma mulher tão ruiva e de coxas tão brancas,
muda e veloz, chuta o sapato longe,
faz que recusa, e já nos abre as pernas.
Cláudio Neves (Inédito)
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