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" Ceifador de Sobreiros "
rapazes sentados em cima
de muros
uma perna para cada lado
as mãos unidas ao musgo
dos muros
o olhar perturbado
crescido no ar
mentem
falam de mulheres de lábios carnudos
seios selvagens pontiagudos
as mãos dos rapazes
unidas ao muro
aquecem o musgo
as pernas baloiçam
os joelhos tocam-se
raspando dos muros
o musgo mais quente
num instante pálido
encontram-se os olhos
e são rios o desejo das bocas
e é um oceano o peito a respirar
marés revoltas...
um é do mar pescador, sabe de redes
outro dos soutos ceifa a cortiça
alarga-se a madrugada
a aurora
leva os corpos do muro para o chão
os rapazes no húmus mordem o musgo
um de coração para baixo
outro de coração para cima
Não sei como viver sem muito amor.
- diz o rapaz navegador
em cada onda voa o gemido do ceifador de sobreiros
sobem de novo o muro
os rapazes
uma perna para cada lado
fumam o musgo enrolado nos lábios
o sabor da maré na boca
do ceifador de sobreiros
chama-se
água devorada
Henrique Levy, 24/09/2011 ( Inédito )
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