29/02/12

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Ao contrário dos perversos sexuais, nos quais o desvio é limitado à esfera sexual, os perversos morais são perturbados em múltiplos aspectos da sua vida psíquica, quer relacional quer afectiva quer mesmo intelectual. Caracterizam-se pela maldade, pela ausência de sentido moral, pela aptidão para as relações sociais - que ajuda à manipulação e mesmo à subordinação dos outros -, pela tendência e facilidade em mascarar as suas intenções, em guardar segredo. Embora pareçam, muitas vezes, frios e calculistas, não estão menos à mercê de tormentos, e é precisamente para se libertarem deles que se entregam a excessos. Portanto, as suas proezas proporcionam-lhes uma intensa satisfação e, por vezes, um sentimento de triunfo que chega a ir até à exaltação e ao júbilo (...).
Outro traço característico dos perversos morais é a sua capacidade de argumentar, de encontrar uma boa razão para justificar os seus delitos. Se o jogador arrisca somas avultadas, é porque quer "saldar as suas numerosas dívidas". Se o perverso-narcísico utiliza o outro, é porque teria "teria muito a ensinar-lhe"... A defesa: racionalizar, justificar-se. A ofensiva: o desejo de convencer, de arregimentar.
Nas relações sociais do perverso de carácter, a dominação e a influência ocupam um lugar privilegiado. Ele manobra habilmente para submeter o outro a pouco e pouco. Animada pelo ódio, a sua vontade procura apagar aquilo que o outro tem de singular. (...) Quanto ao perverso-narcísico, ao jogar com a necessidade de afirmação de si, deseja alterar o valor do amor-próprio do outro. Daí que estabelecer relações íntimas com um perverso e ligar-se a ele é pura perda. Quem o faz nunca sai incólume...
A caminho, pois. A visita à minha pequena "galeria de monstos" começa ...

  Alberto Eiguer in "Pequeno Tratado das Perversões Morias", CLIMEPSI Editores, Lisboa, 1999, pp X - XI.
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