.
" 3. Mater Mor Angustiosa " ( Este terceiro pranto é o da Virgem dirigindo-se a Cristo ausente)
(...)
uma verdade
que te toca até a ti,
se é verdade
que lá, no jardim,
como me contaram
os que te seguiam nesse ápice,
alguns de súbito escutaram
o teu grito:
Afasta de mim
este cálice...
Ai, sacrifício!
Ó sacrifício!
Não entender nada
e sentir tudo,
eis que por tudo vulnerada!
Entendeste tu
quando na cruz
pela derradeira espada
a carne que o coração te agasalhava
toda te foi, e para sempre,
destalhada?
Tamanha de sangue
foi então
essa grande cascata,
que tive a impressão,
eu,
de aos pés do teu madeiro
um verdadeiro
massacre se ter dado;
e tu,
(...)
filho desse verbo
que no universal vácuo
e em seu buraco
negro como o dos monstros
do inferno lá em baixo,
ao nada
disse um dia:
Caguemos,
vamos cagar a gente...
E a gente
ó espectadores,
nós, está visto, seríamos,
mas um de cada vez,
e todos também ao mesmo tempo,
nesta tão pobre criação
que é a nossa condição
- esta barrela,
uma barrela
que ao fim e ao cabo
esparrela
se revela,
e uma foda, é vê-la,
de alto lá com ela,
mas foda enamorada...
De quem?
- pergunta-me porém,
pelo seu lado,
o meu Jesus
morto e ali deitado.
Giovanni Testori in " Três Prantos ", Assírio & Alvim, Lisboa, 2012, pp 169 - 172.
.