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"Armas"
Demoraram até falar-se.
A escuridão actuava como um eco,
espelhos de um oceano,
e no tumulto do recinto,
primeiro um sorriso, onde foste,
pôde quebrar a lâmina de gelo.
Há quase um mês e cada um
pensou vinte maneiras de o outro voltar.
Mas sempre se impôs um temor vago,
de asfixia e voltas de espiral.
A não saber dizê-lo,
a que falhar já fosse para sempre.
Por isso ao primeiro gesto se fundiram
as armas que esboçou a resistência deles.
Ficaram apenas entre os dois
as armas do desejo e as da falta.
Luis Muñoz in "Trípticos Espanhóis", Relógio D'Água Editores, Lisboa,
2004, p 79 (Selecção e Tradução de Joaquim Manuel Magalhães).
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