No dia em que te foste embora,
longos navios de silêncio
encheram a casa,
tão grande, tão vasta!
Todos os gatos da vizinhança
comiam cogumelos
e varriam as cascatas dos cemitérios
com agudas lâminas de tédio.
No cais das horas
fiquei a esperar-te:
grande pedra de saudade
de olhos hirtos.
Paira sobre mim a presença
de uma mão pálida
e sempre uma ave parte:
nunca sei para onde.
Manuela Margarido, Poema XXI de "Alto como o silêncio" in "Polifonias
Insulares - Cultura e Literatura de São Tomé e Príncipe" de Inocência Mata,
Edições Colibri, Lisboa, 2010, p 180.
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