10/10/10

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           "Soneto"


Se alguém batesse à minha porta um dia
E me chamasse à vida que há na rua,
Eu - que não quero ouvir - nada ouviria
Que apenas ouço aquela voz que é tua.

Se alguém de noite abrisse a gelosia
Para que eu pudesse olhar a luz da lua,
Eu - que não posso ver - nada veria
Que a condição de cega continua.

Nem punhal feito em aço de Toledo
Me atinge o coração porque ele somente
No aço dos teus olhos se desfaz.

Pois contra mim lançou este bruxedo
O Amor: de meus sentidos nenhum sente
Senão o sentimento que lhes dás.

Hélia Correia in "O prisma das muitas cores - Poesia de Amor Portuguesa e Brasileira"
(Organização: Victor Oliveira Mateus, Prefácio: António Carlos Cortez), Editora Labirinto,
Fafe, 2010, p 74.
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