13/10/10

"(...) os dois estamos/ cheios de buracos - e nem é grave/ se soubermos flutuar. "

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"Chat"

Em Mercúrio, Sexta-feira, a sonda
detectou duas crateras de auréolas
sombrias. Apresentam ambas bordos
quase intactos e muros de socalcos

segundo especifica o endereço
http://messenger.jhuapl.edu/
( anoto e espero que o poema
seja eterno e o link não). Cliquei

para ampliar a imagem, e dentro
vi pequeninas covas circulares
como as que na areia faz a chuva
ou nas fontes as moedas dos desejos.

Também por via Messenger te encontro
e troco novidades, mais veloz
do que a luz, mais ágil o gracejo
do que o próprio pensamento, faísca

o espaço - onde chegamos, sem risco
já de nos tocarmos; os dois estamos
cheios de buracos - e nem é grave
se soubermos flutuar. Em tudo isto

ainda há algo como um halo fundo
e um radar que é como água gotejando
por degraus, que inquieta mas seduz
e nos deixa sombrios intactos sós.

Margarida Vale de Gato in "Mulher ao Mar", Mariposa Azual, Lisboa, 2010, p 60.
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