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" Fim... "
Vítreo, de olhar parado, passos vão-me arrastando
Para espaços mais distantes num compasso sem fim.
Fumega a massa pedregosa de Berlim,
Correm pela noite fora carros tilintando.
Luzes de montras. Gente negra, espectral,
No brilho amarelado que ensopa a rua inteira.
E tudo vai passando, um velho ritual...
Mascando, pensativa, chega gente de feira,
Raparigas com gestos de quem sempre aqui
Esteve, e o eléctrico tocando sem parar...
Toda esta dor, que quer ela de mim?
Não fiz mal a ninguém neste lugar.
Lâmpadas de arco de brilho azul e branco.
Febres frias cortantes. Vastidões congeladas.
Em semicírculo imóvel, o gigantesco banco
das lésbicas de sempre, grandes, marmorizadas.
Ernst Blass in "A Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas ",
Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2001, p 51 (tradução de João Barrento ).
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