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"Quadrante Vazio"
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Silêncio no campo do soldado.
A noite vazada por um balaço,
Mas ele não pede água.
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Em riste como lápide, pensa:
Perco-me eu dos azares que temo
Ou perdem-se de velhos
Os meus sapatos.
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Portanto, caminha.
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Sente o chão
Sem olhar para baixo,
Olha adiante, fareja adiante,
Um amigo invisível
Vai plantando coragem.
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Em algum lugar
Uma língua de fogo
Arremete seu alvo
E ele continua,
A gargalhada espuma:
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- Que eu seja honesto,
Se já não posso ser justo.
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Recalcitrar
De fogo em fogo
No passo canhestro
De repente lhe dá
Uma impressão de leveza
Mais atroz que qualquer futuro.
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- Samiel,
Toma minha pele couraça,
Minhas canastras,
Meu patético orgulho,
Tudo por quanto te venci
Num átimo, aquela noite,
Naquele escuro.
Faz-me ser como tu,
Rajada escaldante nos desertos.
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Agora sim, pedindo água.
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Mariana Ianelli in "Treva Alvorada", Editora Iluminuras, São Paulo, 2010, pp 55 - 56.
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