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Poema XX de "Cidade Inexacta"
(Mais um aniversário melancolicamente
covarde de uma revolução qualquer perdida.)
De repente lembrei-me da espingarda
que escondi nos versos por causa da polícia
e não sei onde pára.
Guardei-a no fundo das palavras,
perdi a chave do alçapão
e agora, neste dia de barricadas com teias-de-aranha,
que vai ser de mim
sem morte nos dedos?
A espingarda! Onde está a espingarda?...
(A boneca, a boneca do Carlos Queiroz...)
... ferrugenta talvez
mas ainda útil nas paradas de névoa
com cartuchos de lágrimas
(de lágrimas secas)
para matar os homens e chorá-los logo.
Pertenceu ao Zé do Telhado,
disparou nas guerrilhas do silêncio,
andou nas mãos dos gritos
- clavina
de carregar pela boca
no Museu da Cólera.
E agora? Onde está?
Talvez na palavra Amor,
Talvez na palavra Ódio,
Talvez na palavra Medo,
Talvez na palavra Morte,
Talvez na palavra Merda.
José Gomes Ferreira in "Poeta Militante" 3º Volume, Publicações Dom Quixote,
Lisboa, 1998, pp 106 - 107.
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