13/12/12



  " Arte-manhas de um gasto gato "


Não sei desenhar gato.
Não sei escrever o gato.
Não sei gatografia
      nem a linguagem felina das suas artimanhas
Nem as artimanhas felinas da sua não linguagem
Nem o que o dito gato pensa do hipopótamo ( não o de Eliot)
Eliot e os gatos de Eliot (" Practical Cats" )
Os que não sei
e nunca escreverei na tua cama.
O hipopótamo e suas hipopotas ameaçam gato (que não é hipogato)
Antes hiponímico.
Coisa com peso e forma do peso
e o nome do gato?
J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes?
o nome do gato é nome de estação de trem
o inverno dentro dos bares
a necessidade quente de tê-lo
onde vamos diariamente fingindo nomear
eu - o gato - e a grafia de minhas garras:
toma: lê o que escrevo em teu rosto
lê o que rasgo - e tomo - de teu rosto
a parte que em ti é minha - é gato
leio onde te tenho gato
e a gatografia que nunca sei
aprendi na marca no meu rosto
aprendi nas garras que tomei
e me tornei parte e tua - gata - a
saltar sobre montanhas como um gato
e deixar arco-irisado esse meu salto
saltar nem ao menos sabendo que desenho
e escrita esperam gato
saltar felinamente sobre o nome de gato
ameaçado
ameaçado o nome de G A T O
ameaçado o nome de G A S T O
ameaçado de morrer na gastura de meu nome
repito e me auto-ameaço:
não sei desenhar gato
não sei escrever gato
não sei gatografia
                    nem...

  César, Ana Cristina. Um Beijo que Tivesse um Blue: Antologia Poética. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005, pp 35 - 36.
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