07/12/12



É anfíbia, a adolescência do poeta.
Distinguem-se-lhe no tórax barbatanas
dorsais e pulsam-lhe, na garganta, pequenas
brânquias, que permitem que toque o fundo

do mar, das coisas e da terra.
O poeta é portador de uma beleza
oculta onde tudo se encontra, uma banca
de trabalho, um alguidar, uma reverberação

líquida, cor de fogo, a sitiá-lo dentro
da sua própria vida, a sua descendência,
a chuva que não cessa de cair

sobre as cabeças, diluviana, escaldante,
escura, como uma pedra
didáctica.


   Baptista, Amadeu. Atlas das Circunstâncias. Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim Editora, 2012, p 18.
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