# 539. Holderlin
Uma das mais significativas personalidades do romantismo literário é o poeta Friedrich Holderlin (1770-1843), que foi amigo de Schelling e de Hegel e admirador de Fichte. O seu romance Hiperion no qual exprime os seus ideais e as suas convicções filosóficas, é a história de um Grego moderno, que vive o sonho da infinita beleza e perfeição da Grécia Antiga. Encontra essa beleza encarnada na pessoa de uma jovem de quem se enamora, Diotima; e abandona Diotima para traduzir na realidade o seu ideal de perfeição espiritual e decide-se a combater para reconduzir a sua pátria a esse mesmo ideal. Mas só encontra imperfeições e desilusão; renuncia então à sua amada, retira-se para a solidão, alimenta-se do seu sonho e acaba por gozar e exaltar a sua própria dor. No seu enredo, o Hiperion contém todos os traços da concepção romântica. Mas a obra está disseminada de considerações filosóficas que revelam claramente a influência de Fichte e Schelling. O ideal helenizante de Hiperion é na verdade o ideal romântico. "Ser uno com o todo, esta é a vida dos deuses, e o céu do homem! Ser um com tudo o que vive, voltar através de um sagrado esquecimento de si próprio, ao todo da natureza, tal é o vértice dos pensamentos e das alegrias, tal é o cume sagrado da Montanha, a sede da eterna quietude". Este todo, que é uno, é o infinito que vive e se revela no homem. Mas o homem não pode alcançá-lo apenas com o pensamento e a razão. "O homem é um Deus quando sonha, um mendigo quando pensa", diz Holderlin. Só a beleza lhe revela o infinito; e a primeira filha da beleza é a arte, a segunda filha é a religião, que é o amor da beleza. A filosofia nasce da poesia porque só através da beleza está em relação com o Uno infinito. "A poesia é o princípio e o fim da filosofia. Assim como Minerva surge da cabeça de Júpiter, também a filosofia surge da poesia de um ser infinito, divino". "Do simples intelecto não nasce nenhuma filosofia porque a filosofia é mais do que o não limitado conhecimento do contingente. Da simples razão não nasce nenhuma filosofia, porque a filosofia é mais do que a exigência cega de um infinito progresso na síntese ou na análise de uma dada matéria." Nestas palavras o princípio do infinito de Fichte encontra já a sua crítica e a sua correcção romântica. E em Holderlin se encontra também a outra característica do espírito romântico: a exaltação da dor. "Não deve tudo sofrer? Quanto mais elevado é o ser maior o sofrimento. Não sofre a sagrada natureza?... A vontade que não sofre é sono, e sem morte não há vida". Hiperion acaba por exaltar a sua própria dor: "Ó alma, beleza do mundo, indestrutível, enfeitiçante! Com a tua eterna juventude existes; mas o que é a morte e toda a dor do homem? Muitas palavras vãs fizeram os homens estranhos. Tudo nasce portanto da alegria e tudo termina na paz". Esta conciliação do mundo que Hegel consegue através da dialéctica da ideia, consegue-a Holderlin com o sentimento da beleza infinita.
Abbagnano, Nicola. História da Filosofia, Volume VIII. Lisboa: Editorial Presença, 1970, pp 247 - 248 (Tradução de António Ramos Rosa e António Borges Coelho).
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