30/11/08

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A. C. Swinburne - numa aguarela, de 1862, de Dante Gabriel Rossetti.

(Algernon Charles Swinburne - 5/4/1837 - 10/4/1909 )


ANACTORIA

My life is bitter with thy love; thine eyes
Blind me, Thy Tresses burn me, Thy sharp sights
Divide my flesh and spirit with soft sound,
And my blood strengthens, andmy veins abound.
I pray thee sigh not, speak not, draw not breath;
Let life burn down, and dream it is not death.
I would the sea had hidden us, the fire
(Wilt thou fear that, and fear not my desire?)
Severede the bones that bleach, the flesh that cleaves,
And let our sifted ashes drop like leaves.
I feel thy blood against my bloof: my pain
Pains thee, and lips bruise lips, and vein stings vein.
Let fruit be crushed on fruit, let flower on flower,
Breast kindle breast, and either burn one hour.
Why wilt thou follow lesser loves? are thine
Too weak to bear these hands and lips of mine?
I charge thee for my life's sake. O too sweet
To crush love with thy cruel faultless feet,
I charge thee keep thy lips from hers or his,
Sweetest, till theirs be sweeter than my kiss:
Lest I too lure, a swallow for a dove,
Erotion or Erinna to my love.
I would my love could kill thee; I am satiated
With seeing thee live, and fain would have thee dead.
I would earth had thy body as fruit to eat,
And no mouth but some serpent's found thee sweet.
I would find gievous ways to have thee slain,
Intense device, and superflux of pain;
Vex thee with amorous agonies, and shake
Life at thy lips, and leave it there to ache;
Strain out thy soul with pangs too soft to kill,
Intolerable interludes, and infinite ill;
Relapse and reluction of the breath,
Dumb tunes and shuddering semitones of death.
I am weary of all thy words and soft strange ways,
Of all love's fiery nights and all his days,
An all the broken kisses salt as brine
That shuddering lips make moist with waterish wine,
And eyes the bluer for all those hidden hours
That pleasure fills with tears and feeds from flowers,
Fierce at the heart with fire that half comes through,
But all the flower-like white stained round with blue;
The fervent underlid, and that above
Lifted with laughter or abashed with love;
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. Tradução para português de Maria de Lourdes Guimarães:
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ANACTORIA ( excerto)

A minha vida torna-se amarga com o teu amor; os teus olhos
Cegam-me, as tuas tranças queimam-me, os teus suspiros profundos
Dividem a minha carne e o meu espírito com um débil som,
E o meu sangue fortalece-se, e as minhas veias transbordam.
Peço-te que não suspires, não fales, não respires;
Deixa que a vida se reduza a cinzas e sonha que não é a morte.
Queria que o mar nos tivesse escondido, o fogo
(Terás tu medo disso e não receias o meu desejo?)
Quebrou os ossos que branqueiam, a carne que se fende,
E deixa que as nossas cinzas joeiradas caiam como folhas.
Sinto o teu sangue contra a meu; a minha dor
Atormenta-te, e os lábios esmagam os lábios, a veia dilacera a veia.
Que o fruto seja esmagado sobre o fruto, e a flor sobre a flor,
Que o seio desperte o seio e ambos ardam uma hora.
Por que hás-de tu seguir um amor sem importância? É o teu
Demasiado fraco para sustentar estas minhas mãos e estes meus lábios?
Exorto-te a que apenas por mim, ó tão amada,
Esmagues o amor com os teus belos pés cheios de crueldade,
Exorto-te a que afastes os teus lábios dos dela ou dos lábios dele,
Tão doces, até que eles sejam mais doces que o meu beijo:
Para que assim eu não atraia, uma andorinha em vez de uma pomba,
Erotion ou Erinna para o meu amor.
Quem me dera que o meu amor te matasse; fico saciada
Vendo os vivos e de bom grado te queria morta.
Quem me dera que a terra tivesse o teu corpo como fruto para comer,
E que nenhuma boca a não ser a de uma serpente te achasse doce.
Quem me dera encontrar maneiras cruéis de te mandar matar,
Instrumentos violentos e um excessivo fluxo de dor;
Atormentar-te com agonias amorosas e ameaçar
A vida nos teus lábios e deixá-la aí para doer;
Retirar-te a alma com agonias demasiado suaves para matar,
Interlúdios intoleráveis e infinito mal;
Provocar reincidência e relutância do alento,
Melodias mudas e trémulos murmúrios da morte.
Estou cansada de todas as tuas palavras e da tua estranha afabilidade,
De todas as noites escaldantes de amor e de todos os seus dias,
E de todos os beijos interrompidos, salgados como espuma,
Que lábios trémulos tornam húmidos com um vinho mais leve,
E olhos mais azuis por todas aquelas horas escondidas
Que o prazer enche de lágrimas e alimenta de flores,
Cruel fogo no coração que principia a penetrá-lo,
Mas deixando uma brancura de flor manchada à volta de azul;
A pálpebra inferior ardente, e a superior
Erguida com um sorriso ou confundida com o amor;

A. C. Swinburne, Poemas, Relógio D'Água Editores,
Lisboa, 2006, pp 36-39.
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