AVISO: A TROVA MEDIEVAL QUE SE SEGUE CONTÉM PALAVRAS VULGARMENTE
CHAMADAS DE "PALAVRÕES"!
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Elvira Lopez, muito mal sabeis
acautelar-vos com esse peão
que anda convosco e tem a pretensão
de dormir convosco e não entendeis.
Tenho medo que, se ele vos surpreender
algures sozinha e se vos foder,
esse engano nunca comprovareis.
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Ele sabe sempre onde vós jazeis
e vós não sabeis dele vos resguardar
porque abandonais em qualquer lugar
a vossa maleta (1) e quanto trazeis.
Dizei-me ora, Deus vos dê o perdão:
se, de noite, vos foder o peão
em que lugares o procurareis?
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Digo-vos, pois, o que esperar podeis
desse peão que vós trazeis assim,
convosco, por aqui e por ali:
Vós, um pouco, por certo, dormireis
e o peão, se vontade tiver
de foder, foder-vos-á, se quiser
e nunca o que é vosso retomareis.
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Porque vós direis: - Fodeu-me o peão!
E dirá ele: - Boa senhora, eu não!
E com que provas o acusareis?
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Joan Garcia de Guilhade In " Cantigas obscenas de escárnio
e maldizer" (Org. e Pref. de Orlando Neves), Editorial Notícias,
Lisboa, 2004, pp 52-53.
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.(1) A palavra "maeta" (maleta, em português contemporâneo) podia ser
usada para designar o sexo da mulher.
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Joan Garcia de Guilhade - parece provado que este trovador, durante algum tempo tido
como galego, nasceu em Guilhade, povoação do concelho de Barcelos. Viveu nos meados do
século XIII e frequentou as cortes portuguesa e castelhana. É dos mais fecundos e originais
poetas dos cancioneiros. Dele chegaram até nós 54 poemas.
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