29/05/09





desarrumo essa estrela que estala nos teus olhos como alma que se
assopra ao sabor da substância das águas que não sendo lágrimas são a
cal suspensa dos lábios. que sendo casa são delírios que o vento arrasa.

que não sendo corpo é a tua asa sobre um relâmpago que é a nossa chegada.

íngreme o destino do instinto das tuas pupilas, onde me desenhas um
sinal. que sendo recente é antigo. próximo da música longe das estátuas.

que te abrasam como palavras cegas... tão dolorosamento cegas.

e se é ao sul que os animais se estendem ao sol estendo-te a memória.

faz-me um nome. um só que seja. só uma sílaba. tu sabes que a morte é
um grito. sufocado e laço. nó que te desato. para que me sejas o
assombroso movimento de um bicho de seda. distância lenta na tua
pele. sempre adiante.

sempre pálpebra delicada... macio dedilhar onde te cuido a favor do
tempo... taça de espuma selvagem onde te declaro mais puro.
e se disser que te amo? como ilha convulsiva?
e se disser que me és MAIOR na orla das marés e que me invades como um
osso fino... que dirás amanhã... quando o dia te fizer carta ou
pássaro?


Isabel Mendes Ferreira In "Os dias do Amor - Um poema para cada dia
do ano" (Antologia organizada por Inês Ramos e prefaciada por Henrique
Manuel Bento Fialho), Ministério dos Livros Editores, Parede, 2009, p 300.
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