24/06/09


" Poema 6 de Os Dentes Cor de Rosa do Ilusor (1)"
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Eu, que muito mal consigo ser quem sou,
bato-me com este eu mais forte que eu mesmo
e perco. E digo-me: é preciso
jogar tudo pro ar, é preciso esquecer,
o sol está tão límpido tão lindo, como
permanecer imerso nas dobras de si mesmo? Esquecer.
A vida rudimentar te atormenta, o choro
das crianças, as contas do mercado, a torneira pingando,
essa indolência essa revolta essa indolência
o mundo aí, gratuito, a palmilhar e não
e não e não, o sono vem, vem o vazio, amar
é um ato frustro - e que significa?
Esquecer.
Esquecer sobretudo que é fraco, é sozinho
- mas não somos todos sozinhos? nos perguntam,
e o existir não passa da mentira
de nos dizermos fortes e adultos? nos
perguntam, e cada qual em seu canto não há que sofrer
seu tanto? nos perguntam, e a vida inteira
de um homem
não é pura e pura e pura
ilusão?
Esquecer.
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Antonio Brasileiro In "Antologia Poética", Ed, Fundação Casa de Jorge Amado,
Salvador, 1996, p 68.
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