17/06/09




Ode da liberdade II


devíamos criar uma cidade nova
livre
desde as pontas dos dedos
as estradas
à polpa das palmas das mãos
as muralhas
até ao centro histórico
para nela vivermos séculos sem fim
e mergulharmos nos rios as linhas do destino.

devíamos criar uma cidade livre
nova
desde o vulcão
o nosso repouso em labaredas
para um primeiro beijo
fora do território nacional
até à lonjura da maior viagem
dormirmos na pousada
que abriga tectos em estrelas
com os olhos fechados
trocados
numa nova cidade
até sermos ilha.

quando regressássemos
morávamos
na nossa grande casa da árvore
cravejados de folhas
pássaros e beijos
as mãos um do outro
polpa de maçã
só à espera de ver nascer
a madrugada debaixo dos braços
para o último arrepio
de todos os tempos

amarmo-nos.


ana salomé In "odes", Editora Canto Escuro, s/c, 2008, pp 64-65.
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