O júri do Prémio Camões 2009 decidiu atribuir o galardão ao poeta cabo-verdiano
Arménio Adroaldo Vieira e Silva.
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"Canto Final ou Agonia duma Noite Infecunda"
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Como a flor cortada rente e desfolhada
ou os olhos vazados da criança
e o seu fio de pranto ténue e impotente
assim a noite caminha com os astros todos em vertigem
até que se atinge o ponto da mudez
a pesada mó triturando a sílaba
a garganta com as cordas dilaceradas
e uma lêmina ácida e pontiaguda enterrada ao nível da carótida
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Entenda-se isto como noite e o seu transe derradeiro
tanto assim que a flor desfeita
não embala o coração do poeta
oh não
porque a flor defunta
se voa
não sobre nunca
e só dura
o espaço breve duma nota
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Assim o canto se detém imóvel
como se da flauta
falhando súbito
na boca do poeta
ficasse o hiato
ou a saliva
de um tempo devassado por insectos cor de cinza
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A voz suspensa e negada
cede a vez à letra amorfa
inscrita no silêncio
com seu peso
de chumbo e olvido
acaba o poema
e um ponto final selando tudo.
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Arménio Vieira In "Vozes Poéticas da Lusofonia", Ed. Câmara
Mun. de Sintra, 1999.
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