"Imaginary voyage", Wies - Austria (2008) foto de Tomaz Crnej
A demissão da vaidade permite a lucidez
E alivia o peso das horas correctas enquanto
O zelo da alegria enuncia o respeito pela dor.
A ausência de desejo submete a cor à dúvida,
Compromete a seriedade e o caos numa mesma
Espera e limita o espaço onde se movimentam
Os braços. A morte da ternura é demasiado
Lenta e avança com uma delicadeza suave,
Melodiosa até, que rompe limites até então
Seguros e nunca postos em causa pelo corpo.
A água escorre através das fendas provocadas
Pela seca continuada. Há sinais de
Mudança legitimados pela frescura
Dos arbustos que ladeiam o caminho incerto
Que conduz a um silêncio em construção, uma
Ideia indefinida de prazer sensual e puro
Que permanece. Toda a paz respira dentro
De uma loucura reconhecida pelos homens
Que seguem a luz reveladora dos limites
E acrescenta à harmonia a sede líquida
Da exclamação correcta. Há-de chegar o fim.
Rui Almeida in "Lábio Cortado", Livro do Dia Editores,
Torres Vedras, 2009, p 47.
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