05/08/09
Toma-me ainda em tuas mãos e
não perguntes nada
nem sequer dês um nome aos gestos que se abrigam
como um fruto uma promessa um murmúrio
nas fogueiras ateadas em junho
juro que vou escolher palavras que não doam
parecidas com as que sempre encontrava
nas camas em que tantas vezes te enterrei
por dentro do meu corpo
toma-me ainda em tuas mãos eu sei que
temos pouco tempo que não queres
inventar novos ardis para um desamor tão velho
mas vais ver
o mundo é apenas isto e para isto
não procures nenhuma filosofia redentora
porque tudo é no fim de contas tão banal
podes por isso começar a refazer a estrada que
te levava ao centro dos meus dias e esperar
que eu chegue com um retrato desfocado nas mãos
na hora certa de abrir para ti as minhas veias
Alice Vieira In " o que dói às aves", Ed. Caminho,
s/c, 2009, p 36.
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